segunda-feira, 12 de abril de 2010
Amarela
É como alimentar um grande furacão de nada, nunca se chega a um limite. Todas as coisas até agora não tiveram limite, e você tem que admitir. Você sabe que isso não é bom. Eu tenho colocado as minhas meias todos os dias a noite, leio os Contos de Uma Noite Sem Verão e irradio tudo que eu queria que se tivesse feito concreto. Ando descabelado pelas avenidas, bebendo um pouco, admito. Mas o que tem beber? Bebida foi feita para se beber,oras. Voltando, tenho também firmado todo o meu amadurecimento no trabalho, compondo minhas músicas e freqüentando o estúdio de tatuagem que abri recentemente. Quando não vou é porque sinto que a minha doença piorou. Eu tenho tido insônia nas noites, já perguntei a todos os médicos da cidade, e de outras cidades em um raio de 50km da onde moro,fiz todos os exames solicitados e nada foi encontrado. Tumores invisíveis, talvez. Uma ancora cravada no peito mas vestígio de sangue, coágulo, algo visualmente explicito... nada encontrado. Não, não são os aparelhos que estão errados, quebrados... O errado aqui sou eu. Aliás, eu sempre fui o culpado. Nas composições mais antigas, de 1970, eu tentei exprimir todo nosso romance em umas páginas, nada mais do que 50, e sempre me coloquei como “inegligente”, prolixo com você, quase um depósito invertido de lixo, comigo eram emoções. Carinho eu recebi sem pedir, nunca escrevi, ou se escrevi foi pouco e em momentos de raiva, que você era a culpada, que o seu corpo era o culpado, que o seu olhar havia sido um veneno... jamais eu poderia, em sã consciência dizer isso, pensar isso, coletar qualquer célula viva minha que houvesse pensado em transmutar isso, absurdo. Pois bem, mas tenho que admitir que se não fosse você... ok, as coisas não devem tomar caminhos reversos, tenho que continuar falando aqui do que você se fez. Você era assim, uma rosa, mas não das convencionais, rosas rosas, vermelhas, aquelas grandes que namorados presenteiam namoradas nos aniversários, seja lá que tipo de aniversário seja... namoro, aniversário mesmo, bodas de sangue, você era uma rosa diferente, uma rosa azul, ou laranja... amarela, existem muitas rosas amarelas por aí, mas você era uma rosa amarela sendo a mais linda, túrgida, quente de todas as rosas amarelas, só que com o tempo foi se tornando tão pálida, bem pálida, descolorida, sem vida, queimada. No fim você virou um câncer dentro de mim, um tumor, e não faça essa cara, um tumor mesmo, maligno e benigno,até hoje eu não sei te definir muito bem, mas você sabe, muito bem, que o final disso tudo foi uma morte de relacionamento em todos os aspectos. Eu, um homem admirado pela sociedade me fiz vítima de uma doença interminável e lamentável, e você uma mulher com uma vida tão a lá “socialight’ teve o mesmo fim: o amor. E cadê razão nisso tudo? É isso, não existe razão. Erramos, canalizamos energias na hora e no foco errado, somamos tudo invertido e o resultado foi catastrófico, como uma bomba nuclear.se eu no final quis ser um pouco mais do que podia me perdoe, mas eu também terei que perdoar tudo que passei. Não que a nossa história se faça por vilões e mocinhas (ou mocinhos), só existe um questionamento: Por que tudo acaba assim? Eu terminei, e estou me auto-destruindo, com lembranças, estas que geram insônia, que geram instabilidade, que geram fadiga e que geram absurdamente uma falta de você.
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Muito bem escrito!!! A minuciosa escolha das palavras... excelente
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